Augusto Azevedo Mendes
(1891-1969)
Augusto Azevedo Mendes nasceu a 27 de Maio de 1891, no
lugar dos Soudos, freguesia do Paço, concelho de Torres Novas, filho de Manuel Marcos
Mendes e de Teresa de Jesus de Azevedo.
Fez a instrução primária
na escola oficial da sua terra e frequentou o Colégio dos Jesuítas de São Fiel, onde concluíu o curso dos liceus em 1910.
Licenciou-se em Medicina pela Universidade de Coimbra, em 1916, com a
classificação final de 16 valores. Logo no ano seguinte parte para
França como médico militar do Corpo Expedicionário Português, na primeira
guerra mundial, experiência que o marcará profundamente.
Ao regressar de França, fixa-se em Torres Novas como
médico.
Casou em Coimbra, em 1918, com Maria Isabel Leite
Roxanes de Carvalho, natural desta cidade. Tiveram seis filhos (Manuel Maria,
Maria do Carmo, Maria Isabel, Maria de Lurdes, Nuno Maria e José Maria) e vinte
e dois netos.
A vida de Augusto Azevedo Mendes foi rica de realizações e trabalhos, de lutas e vitórias.
Estranha figura a deste homem, porque é impossível
distinguir o que era mais: se médico, se educador, se pedagogo. Ele que marcou,
com o sinal mais, a sua intensa actividade na saúde, na educação e no ensino.
Augusto Azevedo Mendes era um apaixonado! Que chorava
e ria com os fracassos e vitórias, próprios e alheios. Que comunicava
entusiasmo à sua volta; que construía sem cessar.
A sua presença marcou o Hospital de Torres Novas que,
num esforço gigantesco, dotou de novos e organizados serviços; está, como pedra
angular, nos Colégios de Andrade de Corvo e de Santa Maria; e permanece numa
geração que ele soube educar, com a sua compreensão pelos jovens e a solidez dos seus princípios morais
e cristãos.
Muitos se interrrogam hoje sobre o que seriam se não o tivessem tido como educador.
Durante nove anos prestou serviço como médico militar
na Escola Prática de Cavalaria. Simultaneamente, era médico no Hospital da
Misericórdia de Torres Novas, onde imprimiu grande dinamismo e profunda mudança
de mentalidades.
Mais tarde, e dentro de uma natural evolução, cria no Hospital o Centro Cirúgico, que tem o seu
nome. O Centro deu ao Hospital uma enorme relevância e foi o arranque para a
projecção que depois veio a ter este estabelecimento de saúde
tão importante para Torres Novas e os concelhos
vizinhos.
No ensino contribuiu para a fundação do Colégio S. João de Deus em 1926, que viria a transformar-se no
Colégio de Santa Maria em 1936, cuja direcção assume de 1936 a 1942; e é
elemento preponderante e dinamizador na fundação em 1928 do Colégio de Andrade de Corvo.
Na educação imprime às suas aulas de moral um humanismo
sadio, uma franqueza rude, uma abertura tão grande que o torna querido e,
sobretudo, procurado pelos seus alunos em crise. É exemplo dessa franqueza o
seu livro “Virilidade – A fisiologia sexual na vida psíquica e na educação da
mocidade”, que editou em 1936.
Já nesses tempos recuados
promovia a séria educação sexual dos alunos em linguagem sincera, por vezes
brusca, porque ele conhecia o segredo de sacudir para despertar. E tinha tão
grande dom de ler nos corações que, frequentemente, os interpelava a sós, para
lhes dizer o que traziam na alma e os ajudar no difícil caminho da vida.
A sua actividade está
toda ela impregnada da paixão de educar. Jovens e adultos sentiram esse influxo
salutar nas apreciadas palestras que fazia, nas interessantes conversas que
tinha, nos escritos, sempre bairrristas, que semanalmente mandava para o
“Almonda”.
Era defensor de uma
educação integral. Por isso não dissociava as aulas de educação moral e cívica,
que sempre chamou a si, das de educação física, que também deu nos dois
colégios, enquanto não encontrou quem melhor o pudesse fazer.
A juventude tratava-o
amistosamente por “Patrão Augusto”. De facto, era um grande patrão este senhor,
que sabia comandar e fazer-se obedecer.
Nas suas diversas
actividades estava incansavelmente em toda a parte, dinamizando e imprimindo a
animação do seu espírito combativo.
Mas o médico, o educador
e o pedagogo ainda não estava satisfeito. No seu tempo havia ainda a
disponibilidade e no seu coração o
espaço para acolher os mais necessitados
Foi Presidente da
Conferência de S. Vicente de Paulo, na freguesia do Salvador e, depois da morte
do seu irmão Carlos, presidente do Concelho das
Conferências Vicentinas.
Deu-se aos pobres, em
visitas domiciliárias, como se dava àqueles doentes que vinham até ele e não
tinham dinheiro para pagar. Dedicou-se também aos presos e exerceu uma
extraordinária acção junto deles em visitas regulares à prisão e em conversas
privadas.
A sua vida foi imbuída de
uma profunda fé cristã que herdara dos pais e da família. Três dos seus irmãos
foram sacerdotes jesuítas e foi primo de Arcebispo de Évora D. Manuel Mendes da
Conceição Santos, que tem introduzido o processo de beatificação.
Morreu em Torres Novas em
20 de Março de 1969, rodeado da sua família.
Texto resumido da obra de
Joaquim Rodrigues Bicho, “Torrejanos Ilustres”, Câmara Municipal de Torres
Novas, 1999.
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