Texto escrito na capela mortuária dos Capuchinhos, velando o
corpo de Mãe Dida
Porque rezavam e recitavam suas ladainhas nos velórios?
Digo eu que espantavam os seus medos e enchiam aquele tempo
pesado das despedidas definitivas dos seus entes queridos.
E eu que faço aqui sentado, sem esperanças, mas com o
sentido duma vida que partiu ?
Vida que nos habituámos ao longo de muitos anos a ter como
um adquirido.
Elo de ligação de filhos, netos e bisnetos; três gerações
que cresceram à sombra duma maternidade protectora sem grandes alardes nem
apegamentos, mas povoada de pequenos gestos, presenças e cumplicidades cheias
de sentido.
E agora, parte de vez sem deixar grandes recomendações para
além do desejo que as suas cinzas fossem depositadas na campa de Pai Nuno e com
as dele se misturassem ao longo dos tempos.
Mãos hábeis que não gostavam de estar desocupadas, tricotaram
roupas para três gerações, casaquinhos, botas, toucas, barretes, peças que
passaram de geração em geração, algumas que ficaram inacabadas e que peço às
minhas irmãs para as acabarem, mesmo correndo o risco de não ficarem com a
perfeição inexcedível da maestria dos dedos de Mãe Dida
Lisboa, 14 de Junho de 2017
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