domingo, 18 de junho de 2017

texto singelo

Texto escrito na capela mortuária dos Capuchinhos, velando o corpo de Mãe Dida

Porque rezavam e recitavam suas ladainhas nos velórios?
Digo eu que espantavam os seus medos e enchiam aquele tempo pesado das despedidas definitivas dos seus entes queridos.
E eu que faço aqui sentado, sem esperanças, mas com o sentido duma vida que partiu ?
Vida que nos habituámos ao longo de muitos anos a ter como um adquirido.
Elo de ligação de filhos, netos e bisnetos; três gerações que cresceram à sombra duma maternidade protectora sem grandes alardes nem apegamentos, mas povoada de pequenos gestos, presenças e cumplicidades cheias de sentido.
E agora, parte de vez sem deixar grandes recomendações para além do desejo que as suas cinzas fossem depositadas na campa de Pai Nuno e com as dele se misturassem ao longo dos tempos.
Mãos hábeis que não gostavam de estar desocupadas, tricotaram roupas para três gerações, casaquinhos, botas, toucas, barretes, peças que passaram de geração em geração, algumas que ficaram inacabadas e que peço às minhas irmãs para as acabarem, mesmo correndo o risco de não ficarem com a perfeição inexcedível da maestria dos dedos de Mãe Dida

Lisboa, 14 de Junho de 2017 

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