segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Brinquedos da minha meninice 2 (continuação)



                   História  de um  brinquedo  bem  brincado  (escrito em Abril de 1995)



            Era Outono de 1951. Tinha feito dois anos que minha mãe falecera e eu vivia uma meninice triste e isolada, sobre os olhares super-protectores de minha Avó.  Naquela época do ano secavam-se os figos no “passadoiro”. A azáfama do meu Avô com a apanha, seca e escolha dos figos, bem como com uma multitude de outros trabalhos agrícolas, passava-me ao lado sem que nela me fosse permitido participar.
            A mim, menino da cidade, neto varão primogénito, entregue aos cuidados dos avós por infortúnio da doença e morte prematura de minha mãe, não me era pedido mais do que apetite para comer e paciência para aprender e participar  nalgumas rezas. Tinha contudo, como companheira de infortúnio minha irmã, mas mesmo ela pouco colaborante em jogos e correrias.
            Nessa tarde calma e doce de Outono eu esperava com alguma ansiedade o meu Pai vindo de Lisboa. Lembro-me de o ver chegar radiante e com uma grande caixa de cartão nos braços. Nessa semana ele tinha posto de lado o seu natural pendor para a “forretice” de que eu também herdei costelas, para gastar uma boa fatia do seu ordenado num brinquedo caro, para mim que fazia seis anos. Na ânsia de o ver funcionar, dei-lhe corda e puz o magestoso brinquedo a andar no piso da varanda da casa dos meus avós. Nesse primeiro dia logo ficou marcado pelo acidente que sofreu ao despenhar-se pelos degraus da varanda, sofrendo um empeno no chassis que ainda hoje se nota.
            Sei que meu pai adquiriu esta camioneta de brincar marca “Gama” e de fabrico alemão no “Biagio Flora”, loja de brinquedos na Rua do Ouro que ainda hoje existe (*). Alguém me disse que terá custado 500$00, soma realmente avultada para dar por um brinquedo naquela altura.
            Foi talvez o brinquedo mais brincado que eu tive na minha meninice. A seguir a mim ainda serviu para muita brincadeira dos meus irmãos. Lembro-me dele já muito estragado, abandonado e cheio de pó, no cimo dum armário de vestidos onde se depositavam várias “cangalhadas”. Assim permaneceu 15 ou 20 anos, até que eu o recolhi, recuperei e com ele comecei uma colecção de brinquedos antigos.
                                     
P.S. (*) Meses depois de escrever estas linhas, a loja fechou as portas, talvez mais uma vítima das grandes superfícies comerciais.

Camioneta de fabrico alemão (1951-1954) ; marca GAMA , modelo LKW 501 –
ver ficha nº1 da minha colecção de brinquedos .



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