A arte de bem cavalgar virá de remotas gerações, mas do
nosso patriarca Manoel Marcos Mendes não nos chegaram fotos a cavalo. Já de seu
filho e herdeiro das lides agrícolas e comerciais temos foto dele, ainda jovem
e solteiro, e montado no seu cavalo.
Como neto mais velho, eu tive o privilégio de o acompanhar
algumas vezes em idas aos campos para supervisionar ranchos e parlamentar com
capatazes. Cada um montado no seu cavalo, pachorrentamente a passo pois ele já não
ousava trotes nem galopes. O Avô Cândido só desmontava no regresso a casa
porque o montar e desmontar já o fazia com dificuldade.
Durante o passado século XX, o cavalo foi deixando de ser
animal utilitário de tiro e cela para passar progressivamente a elemento de
ostentação, recreio e desporto. As famílias ribatejanas abastadas faziam gala
dos seus cavalos e os filhos destas famílias aprendiam a montar a preceito,
mais para passeios de divertimento e caçadas do que para utilização do cavalo
como meio de transporte no dia a dia.
Quando começou a perder-se a transmissão destes saberes de
pais para filhos e gentes urbanas endinheiradas queriam aprender a cavalgar,
começaram então a aparecer as escolas de equitação.
O nosso Tio Manel tinha fama de bom cavaleiro e foi com ele
que eu aprendi alguma coisa desta arte de cavalgar. Ele levava os preceitos
equestres muito a sério e era ríspido e exigente com os seus sobrinhos e filhos
nesta aprendizagem. A minha, em tempos de férias nos Soudos, não foi
especialmente gratificante como eu descrevo num texto de memórias intitulado
“recordações equestres”.
Mas no tempo do nosso Avô Cândido na casa agrícola dos
Soudos, para além dos cavalos também havia machos e mulas, animais tidos de 2ª
categoria para montar, mas de grande utilidade para puxar carroças e galeras e
ainda para movimentar as noras. E também havia os burros, animais polivalentes
que fizeram parte da Casa Agrícola até quase final do século XX, e que se
mostram em algumas fotografias que ilustram este texto.
Para finalizar, é interessante focar que a tradição equestre
na nossa família não morreu. Filho e netos do Tio Manel mantêm-na e também
netos do Tio João como se mostra nas fotografias: Dois netos do Tio Manel – o
Zé Pedro e o João estão ligados profissionalmente a esta
arte, assim como o Gugas, neto do Tio João.
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