sábado, 4 de março de 2023
Oa meus medos
40. Os meus medos Lisboa, 27 de Junho de 2008
Terrores de infância (coisas sem importância) mas que envenenam a vida de uma criança e que podem minar os alicerces de alguma segurança para o resto da vida.
Julgo que foi o que me aconteceu: menino aflito ansioso e inseguro, irremediavelmente atingido pela permatura ausência de sua mãe, fiquei encurralado nos meus recorrentes medos e aflições.
Lembro aquelas esperas no colégio infantil, incapaz de me entreter com o que quer que fosse para além de me deixar roer por dentro por estragadoras ânsias e tudo por causa de atrasos do meu pai retido nos seus afazeres profissionais.
Depois eram aquelas posturas ansiosas no banco trazeiro do Citroen “arrastadeira”, unhas cravadas nos topos dos bancos da frente e a imaginação sempre aflita a adivinhar um potencial acidente (coisa que para mim parecia sempre iminente).
Lembro de escutar aterrado as conversas de adultos preocupados com o evoluir da guerra da Coreia e com possibilidade dela descambar numa 3ª guerra mundial ; sobre o avanço soviético, à força de blindados, incursões nos paizes limitrofes (depois transformados em paizes satélites) e ainda os relatos sobre a aristocrática familia Pape, refugiada da Austria ou da Hungria. Faltavam ainda as terríveis revelações sobre os Gulags soviéticos mas estas só chegaram mais tarde.
A ajudar a este caldo de aflições vinham ainda as terríveis conjecturas sobre o 3º segredo de Fátima: qual seria a próxima desgraça apocaliptica que estaria para desabar em breve em cima das nossas cabeças? Seria mesmo o eclodir da 3ª guerra mundial? Ou seria uma catástrofe natural a nível global?
Cresci e tentei arumar todo este material estragador de vida mas ele está lá
pronto para desencadear novos episódios ansiosos e fazer de amplificador das ânsias e dos medos que nos atacam todos os dias.
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