segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023
Marijoana já foi brevemente referida num pequeno texto meu de memórias, escrito em 1996 (texto que incluí no livro “Cândido Victória e descendência”)
Volto a ela, como figura relevante da casa dos meus avós dos Soudos:
Que vidas? Que contra-tempos? Que desgraças? terão acontecido a esta mulher ainda jovem na altura para ter de largar, a sua aldeia, os seus filhos e os seus parentes para ser contratada por uma família abastada como ama de leite numa nova casa que passa a ser a sua até ao final dos seus dias.
Julgo que foi para dar leite e tratar do meu tio José Cândido (nascido em 1921) que ela terá vindo. Mas sei que a minha mãe Teresa, nascida no ano anterior, também tinha um grande carinho por esta mulher, assim como todos os outros meus tios mais novos. Também não sei se teria dotes especiais de aleitação que terão servido para nutrir alguns dos meus tios nascidos posteriormente.
Dela me lembro com seu ar peculiar, meio divertido, meio agastado, mas para mim sempre de pessoa idosa pois pertencente à geração dos meus avós.
Acabada a longa tarefa de aleitar e cuidar de sete meninos, Marijoana dedicou-se com grande empenho às aves domésticas que habitavam a grande capoeira e aos patos e perus que deambulavam pelo pateo e campos anexos. Lembro-me dela a fazer ração de urtigas que ela cortava e migava com as suas mãos calejadas e à prova de picadelas, lembro-me também de ela me levar aos cestos onde as galinhas punham os ovos e que depois chocavam alguns que viriam a dar nova família de pintainhos; lembro-me ainda das coelheiras onde abastecia os respectivos habitantes de verduras colhidas por ela nos campos logo de manhã cedo. Também me lembro de ela ter levado um inesperado coice duma cavalgadura que a deixou prostrada e dorida por uns dias. Mas além das tarefas fora de casa Marijoana não deixava de ser a figura tutelar das empregadas domésticas cujas tarefas eram cozinhar, limpar e tratar das roupas (depois ainda havia as costureiras que vinham passajar meias, toalhas e lençois e mais tarde preparar enxovais das meninas casadoiras, e ainda as lavadeiras que recolhiam a roupa suja e a iam lavar ao tanque e pôr a secar). De quando em vez Marijoana recebia umas visitas, embora muito espaçadas, de familiares com quem conversava ao portão da quinta sem nunca as trazer para casa. Ficamos sem saber a quem deixou entregues os filhos, se aceitou esta nova vida por lhe ter falecido algum filho à nascença ou ainda muito bébé, se por imperiosas necessidades económicas ou por desavenças insanáveis. Sabemos contudo que ela expedia regularmente uma parte do seu salário e tratava ela própria desses envios pelo correio.
Marijoana uma figura tutelar e incontornável da Casa Mãe dos Soudos entre as décadas de 20 e de 60 do século passado
(faleceu no ano de 1963 e ignora-se o ano do seu nascimento)
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