domingo, 26 de fevereiro de 2023

Recordações de lume

5. Recordações de Lume ( 1 / 1 / 87 ) Guiava pela noite dentro. O nevoeiro descia, adensava-se lentamente e com ele vinham uma mistura de cheiros campestres e aldeões que acordavam recônditas zonas das memórias da minha infância. Aí permaneciam intactos registos dos perfumes dos fornos de lenha, lareiras, braseiras e fumeiros. Tempos em que o fogo não era um luxo decorativo e dispensável, mas que fazia parte da vida quotidiana desde o acender do fogão a lenha, de madrugada, até ao serão à lareira, passando pelas brasas nos ferros de engomar e nas redondas braseiras. Essa era uma idade do fogo companheiro e das labaredas despoletando fabulosos enredos nas teias da imaginação. Idade já moribunda quando eu a experimentei na minha infância e que agora se tornava fisicamente presente pelos cheiros que inalava viajando aldeia após aldeia, Ribatejo acima. Rolava, deixando a cidade para trás a aproximando-me do pequeno mundo onde vivi a minha infância triste e solitária, mas apesar de tudo cheia de recordações.

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