sábado, 27 de janeiro de 2018

Carlos Azevedo Mendes e os Congressos das Misericórdias (3)


Em Setúbal, no decorrer do III Congresso ficou resolvido que o IV Congresso se realizaria em Braga no ano de 1936.
Entretanto, em 6 de Dezembro de 1934, Carlos Azevedo Mendes é escolhido numa Assembleia das Misericórdias realizada em Coimbra como representante das mesmas na futura Câmara Corporativa (11).   Nesta sua nova qualidade, acompanhou os trabalhos preparatórios para o novo congresso e tentou ultrapassar o pessimismo com que algumas Misericórdias, nomeadamente a de Braga, encaravam esta realização.
O grau de interferência que os governos saídos da Revolução de 28 de Maio de 1926 estavam a ter nas Misericórdias está bem patente no Relatório do Representante das Misericórdias na Câmara Corporativa – legislatura 1934-1938 onde na pg. 10 Carlos Azevedo Mendes escreve o seguinte: “Ouvido S. Exª o Sr. Ministro do Interior sobre a realização do Congresso, escolhidas as teses e assentes todos os pormenores, a Misericórdia de Braga marcou o dia da sessão inaugural. Mas uns dias antes um telefonema do Ministério do Interior anunciava-me que S. Exª o Sr. Ministro precisava de me falar. O Governo, em vésperas da publicação do Código Administrativo, julgava oportuno o adiamento do Congresso… E o Congresso não se realizou”.
Estas linhas são bem significativas do “pântano” para onde caminhavam as relações institucionais entre as Misericórdias e o governo ditatorial e centralizador do “Estado Novo”.
Embora Carlos Azevedo Mendes depositasse esperanças num denominado “espírito novo corporativo” a construir pelo nascente “Estado Novo” e sob a batuta do seu amigo Salazar a verdade é este “Estado Novo” caminhou para uma afirmação ditatorial e centralizadora afastando ou silenciando todas as vozes críticas que surgiam no seu caminho.
Depreende-se que a governação chefiada por Salazar não estava nada interessada na realização dum novo congresso das Misericórdias onde fosse publicamente reclamado a sua autonomia (difícil de controlar pelo poder centralizador) e a compensação do desfalque financeiro a que as misericórdias tinham sido submetidas no passado com as leis da desamortização (objectivo secundarizado por Salazar para dar prioridade ao reequilíbrio das contas públicas). Assim, passaram 22 anos até surgir a oportunidade da nova convocação do IV congresso mas num formato completamente diferente e integrado nas Comemorações do V Centenário do Nascimento da fundadora das Misericórdias portuguesas – a Rainha Dona Leonor. A iniciativa da sua realização pertenceu à Comissão Nacional destas Comemorações que nomeou uma Comissão Executiva para o efeito e o Dr. Carlos Augusto Dinis da Fonseca (alto funcionário da Direcção Geral de Assistência) para seu Secretário-Geral(12). Nessa altura, estamos em 1958, as misericórdias funcionavam num registo diferente, quase como agências públicas locais de beneficência e muito dependentes dos dinheiros públicos. Havia algumas excepções como seria o caso de Torres Novas: misericórdias que se esforçavam por conseguir alguma autonomia com inventivas iniciativas locais como saraus, festivais e cortejos de oferendas -

(11) Sobre esta escolha ver Revista Nova Augusta nº28, pg.13, nota 3. Admito que a proximidade de Carlos Azevedo Mendes com Salazar tenha pesado nesta escolha.

(12) O Dr. Carlos Augusto Dinis da Fonseca fez grande parte da sua carreira profissional como quadro da Direcção Geral de Assistência onde atingiu o posto de Inspector Chefe da Assistência Social.

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