A realização do IV Congresso em simultâneo com as
comemorações do V Centenário do nascimento da Rainha Dona Leonor foi mais uma
manifestação “folclórica” ao gosto do Estado Novo com cerimónia de abertura nos
Jerónimos presidida pelo Cardeal Cerejeira e sessão inaugural no salão das
lotarias da Misericórdia de Lisboa aí presidida pelo chefe de Estado, Almirante
Américo Tomás. O feição reivindicativa e
de procura de sã autonomia tinha desaparecido na onda avassaladora de controle
e centralização do Estado Novo. As Misericórdias tinham ficado reféns dos
esquemas de subsidiação do Estado, situação contra a qual tinha lutado desde o
primeiro congresso Carlos Azevedo Mendes e que na altura contava com o apoio do
Dr. Salazar que nos finais da 1ª República, e ainda sem responsabilidades
governativas, tinha defendido publicamente essa autonomia e justa compensação
financeira das Misericórdias.
Não quero contudo
menosprezar a valia técnica, histórica e doutrinária dos trabalhos
desenvolvidos no âmbito deste IV Congresso onde intervieram figuras como o Dr.
Marcello Caetano, o Director da Faculdade de Medicina de Lisboa, o Bastonário
da Ordem dos Médicos, o Dr. Miller Guerra. O Dr. Azeredo Perdigão e o Director
da Faculdade de Direito de Coimbra.
A análise destes conteúdos ultrapassa o âmbito deste artigo
mas pode ser feita através da leitura das Actas do IV Congresso das
Misericórdias publicadas em três volumes em 1959.
Correndo o risco de ser inconveniente eu diria que este
Congresso não passou de uma laboriosa encenação na tentativa de manutenção do
status quo do Estado Novo, cada vez mais contestado interna e internacionalmente.
Correndo também o risco de tentar interpretar estados de
alma, a postura de Carlos Azevedo Mendes na sessão de abertura deste congresso (captada
num instante fotográfico que se publica em anexo) parece reveladora dum
desânimo de quem sente os ideais de autonomia e justiça para as Misericórdias
postergados.
Carlos Azevedo Mendes teve direito a usar da palavra na
sessão de encerramento presidida pelo Ministro da Saúde e Assistência da
altura, Dr. Henrique Martins de Carvalho. Fê-lo como decano dos Provedores e em
nome da todas as Misericórdias (13), mas o tempo de ser figura activa e
actuante das Misericórdias já tinha passado, acrescento eu.
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