Recordações de Lume (
1 / 1 / 87 )
Guiava pela noite dentro. O nevoeiro descia, adensava-se lentamente e
com ele vinham uma mistura de cheiros campestres e aldeões que acordavam
recônditas zonas das memórias da minha infância. Aí permaneciam intactos
registos dos perfumes dos fornos de lenha, lareiras, braseiras e fumeiros.
Tempos em que o fogo não era um luxo decorativo e dispensável, mas que fazia
parte da vida quotidiana desde o acender do fogão a lenha, de madrugada, até ao
serão à lareira, passando pelas brasas nos ferros de engomar e nas redondas
braseiras.
Essa era uma idade do fogo companheiro e das labaredas despoletando
fabulosos enredos nas teias da imaginação. Idade já moribunda quando eu a experimentei na minha infância e
que agora se tornava fisicamente presente pelos cheiros que inalava viajando
aldeia após aldeia, Ribatejo acima. Rolava, deixando a cidade para trás a
aproximando-me do pequeno mundo onde vivi a minha infância triste e solitária,
mas apesar de tudo cheia de recordações.
Sem comentários:
Enviar um comentário