domingo, 25 de junho de 2023
domingo, 18 de junho de 2023
São Martinho do Porto finais dos anos 30 ou inícios dos anos 40 so Século passado
Fotos de tripulação feminina (com timoneiro masculino)
Todos os anos se organizavam no Verão regatas na baía de São Martinho do Porto.
Os botes, que ainda hoje se vêm a navegar na baía, eram habitualmente aparelhados com vela e faziam a sua regata à vela, mas depois também se transformavam em embarcação a remos e assim se disputavam regatas com tripulações dos dois sexos.
A seguir mostro duas fotos duma tripulação feminina - em terra com os remos ao alto e dentro do bote. Das 4 meninas remadoras consigo identificar Teresa Granger (resentemente falecida)
sábado, 17 de junho de 2023
sexta-feira, 16 de junho de 2023
Trabalhos da manutênção e melhorias na Quinta da Cerca entre os dias 8 e 12 deste mês
Seguem fotos das várias intervêncões efectuadas na Casa Mãe e no Jardim por uma equipa composta por associados seniors e pela jovem Leonor
quarta-feira, 10 de maio de 2023
80 anos!
Mestre Barata, de seu nome completo António Roque Pombo Barata festejou ontem as suas 80 primaveras.
Duas fotos do mestre apagando a velinha representativa dum rol de oitenta:
sexta-feira, 5 de maio de 2023
Passeio à Quinta da Barroca
Na carruagem puxada por uma parelha de mulas podem ver-se os irmãos Carlos Augusto e Álvaro Dinis da Fonseca.
Final da década de 40 ou inícios da década de 50 do século passado
quinta-feira, 4 de maio de 2023
Antepassados da Lamarosa
Manuel Gonçalves da Cunha, baptizado em 16 de Abril de 1753 (natural da Lamarosa), casou com Maria Joaquina, baptizada em 6 de Maio de 1759 e natural de Cazeiros
Filhos:
Anna (6/12/1775)
Elena (20/12/1777)
António ( 5/ 3/1780)
Frncisca Roza (10/2/1782)
Francisca ( 8/10/1785)
José Manoel (8/12/1788)
José Manoel Gonçalves da Cunha é afilhado de Manoel Saldanha e Sousa, capitão mor da Villa da Golegam e de D. Maria Joaquina da Silva.
Casou com Maria do Ó e foi pai de Maria de Jesus Gonçalves da Cunha. Esta casou com Cândido Martins de Azevedo, da Lamarosa
É avô materno de João Martins de Azevedo e de Tereza de Jesus Martins de Azevedo.
Esta veio a concorciar-se com Manoel Marques (errado é Marcos) Mendes dos Soudos.
As actuais famílias Valle e Azevedo e Azevedo Mendes são descendentes, a primeira de João Martins de Azevedo e a segunda de Tereza de Jesus.
(recolhido um apontamento intitulado “Antepassados da Lamaroza” com assinatura ilegível e com data de Janeiro de 1992)
sábado, 1 de abril de 2023
quarta-feira, 29 de março de 2023
Falecimento da Dicky
Faleceu há dois dias na cidade do Cabo, África do Sul, a esposa do nosso primo Manuel Castelo Branco Azevedo Mendes. Para ele e para os filhos vão os nossos sentidos pêsames.
segunda-feira, 27 de março de 2023
Três gerações de associadas
Da Associação dos Amigos da Cerca - Soudos
Antes de se iniciar a Assembleia Geral de 25 de Março (data aniversária do falecido "Mano Velho" Fernando
domingo, 19 de março de 2023
sábado, 18 de março de 2023
sexta-feira, 17 de março de 2023
quinta-feira, 16 de março de 2023
quarta-feira, 15 de março de 2023
terça-feira, 14 de março de 2023
sábado, 11 de março de 2023
sexta-feira, 10 de março de 2023
Biografias dos sete filhos de Victória Sirgado Azevedo Mendes, por ela manuscritas
Começarei amanhã a publicar estas folhinhas manuscritas pela minha Avó, folhinhas guardadas pela sua neta Marta
quarta-feira, 8 de março de 2023
terça-feira, 7 de março de 2023
Continuação do último adeus ao "Mano Velho" João
Alteração: O Corpo só vai para a Igreja de Nossa Senhora da Conceição nos Olivais às 16 h.
Informação : Haverá missa a seguir às 19 horas
segunda-feira, 6 de março de 2023
Adeus ao último "MANO VELHO"
Um a um, foram-se despedindo de nós os "MANOS VELHOS" da Casa Azevedo Mendes dos Soudos. Chegou hoje o dia do último dos sete se despedir.
De seu nome João Maria, Presidente honorário da Mesa da Assembleia Geral da nossa Associação.
Deixou-nos hoje um grande coração, um homem bom e que sempre nos recebia com um sorriso e que sempre nos incentivou a prosseguir os nossos projectos associativos.
À Tia Eduarda, aos seus filhos, aos seus netos e aos seus bisnetos ficam aqui escritos os nossos sentidos pêsames . Acompanhamo-los na sua dor e tristeza mas repleta de boas memórias.
A todos que quiserem prestar homenagem ao "Mano Velho João" poderão fazê-lo na Igreja dos Olivais amanhã a partir das 15 h e também na quarta-feira de manhã.
O mais velhos dos seus muitos sobrinhos
Manel
domingo, 5 de março de 2023
Desafio
Depois da publicação durante estes últimos dias de textos respigados do meu carderno de memórias, convido os meus primos a enviarem-me textos de memórias e de outros acontecimentos e que tenham gosto em partilhar. Lembro que este blog está aberto à leitura de toda e qualquer pessoa que tenha acesso ao seu indicativo:amigosdacerca.blogspot.com
O "Há-de vir e o Agora"
Soudos, 14 de Março de 2014 (Sentado nas escadas da varanda da Casa dos meus Avós e apanhando Sol da Primavera)
Vale a pena confrontarmo-nos com outras filosofias orientais que não vivem do
“há-de vir” mas do “agora”.
Viver calma e plenamente o “agora” em vez de enfatizar o desassossego pelo que
“há-de vir” (lema tão querido e apregoado pelo guru Chopra , ele mesmo de origem oriental embora americano).
Este desassossego que criou gerações de ofegantes stressados, sempre obsecados pela conquista dum amanhã mais rico (o que não quer dizer melhor).
Agora, que tive a sorte de desembocar no estatuto de reformado, sem os repetidos e cheios horários profissionais a cumprir, vale a pena ter em atenção esta postura.
Não cair no vácuo deprimente da desesperança do amanhã (o que já me aconteceu)
Nem num novo stress de muitas ocupações como que a tapar buracos de vazios (o que espero que não me aconteça).
Em vez desses extremos – poucas, vividas e (se possível) partilhadas ocupações
para fruir calma serena e plenamente.
sábado, 4 de março de 2023
Oa meus medos
40. Os meus medos Lisboa, 27 de Junho de 2008
Terrores de infância (coisas sem importância) mas que envenenam a vida de uma criança e que podem minar os alicerces de alguma segurança para o resto da vida.
Julgo que foi o que me aconteceu: menino aflito ansioso e inseguro, irremediavelmente atingido pela permatura ausência de sua mãe, fiquei encurralado nos meus recorrentes medos e aflições.
Lembro aquelas esperas no colégio infantil, incapaz de me entreter com o que quer que fosse para além de me deixar roer por dentro por estragadoras ânsias e tudo por causa de atrasos do meu pai retido nos seus afazeres profissionais.
Depois eram aquelas posturas ansiosas no banco trazeiro do Citroen “arrastadeira”, unhas cravadas nos topos dos bancos da frente e a imaginação sempre aflita a adivinhar um potencial acidente (coisa que para mim parecia sempre iminente).
Lembro de escutar aterrado as conversas de adultos preocupados com o evoluir da guerra da Coreia e com possibilidade dela descambar numa 3ª guerra mundial ; sobre o avanço soviético, à força de blindados, incursões nos paizes limitrofes (depois transformados em paizes satélites) e ainda os relatos sobre a aristocrática familia Pape, refugiada da Austria ou da Hungria. Faltavam ainda as terríveis revelações sobre os Gulags soviéticos mas estas só chegaram mais tarde.
A ajudar a este caldo de aflições vinham ainda as terríveis conjecturas sobre o 3º segredo de Fátima: qual seria a próxima desgraça apocaliptica que estaria para desabar em breve em cima das nossas cabeças? Seria mesmo o eclodir da 3ª guerra mundial? Ou seria uma catástrofe natural a nível global?
Cresci e tentei arumar todo este material estragador de vida mas ele está lá
pronto para desencadear novos episódios ansiosos e fazer de amplificador das ânsias e dos medos que nos atacam todos os dias.
sexta-feira, 3 de março de 2023
Lembranças meio poeticas
33. Lembranças (re-escrito em Dezembro de 2005 sobre
tema idêntico escrito em Outubro de 1989)
Lembro aquele espaço imenso onde desagua a memória da minha infância
triste e solitária;
Sofro as imagens dos meus avós nas suas inexoráveis velhices;
Compadeço-me de tanto tempo desperdiçado,
mortalmente chato, monótono e desinteressante;
Exalto pequenos episódios de ternuras, abraços e carícias
que salvam um mar de solidão e afastamento.
Soudos recordações equestres
Lisboa, 16/08/2000
Mal sabia andar já me levavam à garupa dos seus altaneiros cavalos.
Entalado entre a sela e o pescoço do animal, fustigado pelas crinas e atacado pelo mosquedo, aguentava a provação no meio de muitos incitamentos.
Não foi gostosa a aprendizagem da arte equestre nem fui longe nas lides com cavalos. Poucas foram as quedas mesmo naquelas primeiras experiências de montar sòzinho quando ainda não tinha comprimento de pernas para chegar aos estribos. Lembro-me contudo dum episódio caricato ocorrido numa das muitas saídas matinais acompanhando meu tio Manuel para uma vistoria a um rancho ocupado na apanha do figo. Montava um dócil animal, mas mesmo assim ainda o conduzia inseguro e não consegui evitar que ele se enfiasse debaixo de uma figueira. Passou com a garupa rente a um grosso ramo onde eu fiquei abraçado e pendurado para irritação do meu tio que me viu sujeito à humilhação duma risada geral do pessoal do rancho. Mas na adolescência quando ganhei algum domínio e à vontade com estes animais pude fruir inesquecíveis cavalgadas solitárias por recônditas veredas campestres; incursões até aos contrafortes da Serra d’Aire a Poente e, no sentido contrário, até ao vale do Rio Nabão a Nascente.
Algumas vezes me aventurei até Tomar utilizando caminhos secundários que encurtavam bastante a distância. Deixava o animal num estábulo à entrada da cidade e percorria a pé as ruas tratando de pequenas incumbências.
O Avô que fizera vezes sem conto esta viagem a cavalo na sua juventude quase me ralhou quando eu lhe contei que deixava o animal às portas da cidade em vez de aproveitar para me pavonear pelas ruas cavalgando a preceito. Esquecia-se que desde o seu tempo de menino e moço até ao meu, passara mais de meio século e então já não era prático nem seguro circular a cavalo na cidade. Estou a falar do início da década de sessenta, altura em que a circulação automóvel ainda não era caótica como hoje. Passear a cavalo no meio da cidade já não era comum, embora ainda houvesse muita carroça e alguns asnos e mulas a circular, mas o que entristecia o meu Avô era o facto de eu não ter nascido com vocação de marialva e de não tirar partido de tão belas oportunidades para dar nas vistas às meninas da cidade.
quinta-feira, 2 de março de 2023
Soudos - recordações
19. SOUDOS - Recordações dos seus ofícios artesanais
(escrito em Abril de 1999)
É uma aldeia do interior ribatejano, bastante mais perto do mar do que da raia espanhola. Mas entre o mar e a aldeia eleva-se a Serra d’Aire pequena, mas barreira bastante para muitas das humidades atlânticas. Assim o clima é seco com Invernos frios e Verões com calores de rachar. Os poços dão para regar umas pequenas hortas e pomares. Para beber, a maioria das casas tinham as suas cisternas que recolhiam dos telhados as águas das poucas chuvas. É uma espécie de Algarve sem mar com figueiras e amendoeiras mas também com muitas oliveiras e algumas cerejeiras.
A energia eléctrica pública chegou já eu era menino espigado e a água canalizada pública só uns trinta anos depois. Instalaram recentemente uma central de bombagem ao lado do cemitério que puxa água do Castelo do Bode e a distribui pelas aldeias da região. Mas a chegada destas infra-estruturas do chamado progresso não foram suficientes para reanimar a economia rural em franca recessão.
Os múltiplos ofícios artesanais que animavam económica e socialmente a aldeia foram fechando uns atrás dos outros por falta de clientes ou por velhice e incapacidade dos seus donos. Assim, a pequena comunidade rural quase auto-suficiente transformou-se num incaracterístico dormitório de gentes que trabalham nas vilas e cidades mais póximas.
- Lembro o funileiro que soldava a lata e que fabricava e reparava múltiplos utensílios ( em Tomar ainda se mantem esta actividade tradicional que continua a ter saída mas mais como artesanato turístico);
- Lembro o ferrador que punha as ferraduras em brasa na sua forja a carvão e depois as cravava nos cascos das cavalgaduras que para o efeito eram imobilizadas numas giolas de madeira e obrigadas a levantar à vez cada uma das patas;
- Lembro a oficina metalúrgica onde se reparavam as alfaias agrícolas e se fabricavam noras de elevação de água movidas pela força de obedientes mulas ou problemáticos gericos;
- Lembro ainda uma oficina de tanoeiro onde já labutavam vários artífices e que fabricava barris que eram expedidos para as diversas regiões do país produtoras de vinho;
- Lembro também as várias destilarias que fabricavam aguardente a partir do figo seco da região e as diversas adegas que iam produzindo vinho para consumo próprio ou para as tabernas das redondezas;
- Lembro o lagar de azeite construído pelo meu Avô onde havia um luxo dum gerador eléctrico que nos alumiava nas noites de Inverno (só no final da década de 50 é que as velas e candeeiros ficaram sem préstimo com a chegada da iluminação pública a que já fiz referência);
- Lembro um improvisado matadouro de suínos que todas as semanas nos brindava com altas berrarias dos bichos antes de serem esfaquiados;
- Lembro por (e muitas outras coisas ficarão por lembrar) o quotidiano trabalho do padeiro local com o seu forno a lenha que exalava pela aldeia um gostoso cheiro a pão acabado de cozer.
(acrescento de Abril de 2004)
Não quero com estas recordações esquecer a vida dura e miserável que levavam a maioria das gentes que não tinham outros recursos para além dos seus braços e que trabalhavam de Sol a Sol nas fazendas, adegas, destilarias e lagares, quando era tempo disso, dos proprietários agrícolas da terra.
Não quero esquecer a praga do alcoolismo que corroía a incipiente vida social que se gerava à volta das tabernas.
Não quero também esquecer o frio que se rapava no Inverno, o calor que se suava no Verão e a fome que às vezes batia à porta dos desafortunados pela doença e pela desorientação da bebedeira
terça-feira, 28 de fevereiro de 2023
História de um brinquedo
7. História de um brinquedo bem brincado (escrito em Abril de 1995) (1)
Era Outono de 1951. Tinha feito dois anos que minha mãe falecera e eu vivia uma meninice triste e isolada, sobre os olhares super-protectores de minha avó. Naquela época do ano secavam-se os figos no “passadoiro”. A azáfama do meu Avô com a apanha, seca e escolha dos figos, bem como com uma multitude de outros trabalhos agrícolas, passava-me ao lado sem que nela me fosse permitido participar.
A mim, menino da cidade, neto varão primogénito, entregue aos cuidados dos avós por infortúnio da doença e morte prematura de minha mãe, não me era pedido mais do que apetite para comer e paciência para aprender e participar nalgumas rezas. Tinha contudo, como companheira de infortúnio minha irmã, mas mesmo ela pouco colaborante em jogos e correrias.
Nessa tarde calma e doce de Outono eu esperava com alguma ansiedade o meu Pai vindo de Lisboa. Lembro-me de o ver chegar radiante e com uma grande caixa de cartão nos braços. Nessa semana ele tinha posto de lado o seu natural pendor para a “forretice” de que eu também herdei costelas, para gastar uma boa fatia do seu ordenado num brinquedo caro, para mim que fazia seis anos. Na ânsia de o ver funcionar logo lhe dei corda e o pus a andar na varanda da casa dos meus avós. Nesse primeiro dia logo ficou marcado pelo acidente que sofreu ao despenhar-se pelos degraus da varanda, sofrendo um empeno no chassis que ainda hoje se nota.
Sei que meu pai adquiriu esta camioneta de brincar marca “Gama” e de fabrico alemão no “Biagio Flora”, loja de brinquedos na Rua do Ouro que ainda hoje existe (2). Alguém me disse que terá custado 500$00, soma realmente avultada para dar por um brinquedo naquela altura.
Foi talvez o brinquedo mais brincado que eu tive na minha meninice. A seguir a mim ainda serviu para muita brincadeira dos meus irmãos. Lembro-me dele já muito estragado, abandonado e cheio de pó, no cimo dum armário de vestidos onde se depositavam várias “cangalhadas”. Assim permaneceu 15 ou 20 anos, até que eu o recolhi, recuperei e com ele comecei uma colecção de brinquedos antigos.
(1) Camioneta de fabrico alemão (1951-1954) ; modelo LKW 501, marca GAMA
– ver ficha da colecção de brinquedos nº1
(2) Meses depois de escrever estas linhas, a loja fechou as portas, talvez mais uma vítima das grandes superfícies comerciais e da desertificação da Baixa Pombalina.
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023
Marijoana já foi brevemente referida num pequeno texto meu de memórias, escrito em 1996 (texto que incluí no livro “Cândido Victória e descendência”)
Volto a ela, como figura relevante da casa dos meus avós dos Soudos:
Que vidas? Que contra-tempos? Que desgraças? terão acontecido a esta mulher ainda jovem na altura para ter de largar, a sua aldeia, os seus filhos e os seus parentes para ser contratada por uma família abastada como ama de leite numa nova casa que passa a ser a sua até ao final dos seus dias.
Julgo que foi para dar leite e tratar do meu tio José Cândido (nascido em 1921) que ela terá vindo. Mas sei que a minha mãe Teresa, nascida no ano anterior, também tinha um grande carinho por esta mulher, assim como todos os outros meus tios mais novos. Também não sei se teria dotes especiais de aleitação que terão servido para nutrir alguns dos meus tios nascidos posteriormente.
Dela me lembro com seu ar peculiar, meio divertido, meio agastado, mas para mim sempre de pessoa idosa pois pertencente à geração dos meus avós.
Acabada a longa tarefa de aleitar e cuidar de sete meninos, Marijoana dedicou-se com grande empenho às aves domésticas que habitavam a grande capoeira e aos patos e perus que deambulavam pelo pateo e campos anexos. Lembro-me dela a fazer ração de urtigas que ela cortava e migava com as suas mãos calejadas e à prova de picadelas, lembro-me também de ela me levar aos cestos onde as galinhas punham os ovos e que depois chocavam alguns que viriam a dar nova família de pintainhos; lembro-me ainda das coelheiras onde abastecia os respectivos habitantes de verduras colhidas por ela nos campos logo de manhã cedo. Também me lembro de ela ter levado um inesperado coice duma cavalgadura que a deixou prostrada e dorida por uns dias. Mas além das tarefas fora de casa Marijoana não deixava de ser a figura tutelar das empregadas domésticas cujas tarefas eram cozinhar, limpar e tratar das roupas (depois ainda havia as costureiras que vinham passajar meias, toalhas e lençois e mais tarde preparar enxovais das meninas casadoiras, e ainda as lavadeiras que recolhiam a roupa suja e a iam lavar ao tanque e pôr a secar). De quando em vez Marijoana recebia umas visitas, embora muito espaçadas, de familiares com quem conversava ao portão da quinta sem nunca as trazer para casa. Ficamos sem saber a quem deixou entregues os filhos, se aceitou esta nova vida por lhe ter falecido algum filho à nascença ou ainda muito bébé, se por imperiosas necessidades económicas ou por desavenças insanáveis. Sabemos contudo que ela expedia regularmente uma parte do seu salário e tratava ela própria desses envios pelo correio.
Marijoana uma figura tutelar e incontornável da Casa Mãe dos Soudos entre as décadas de 20 e de 60 do século passado
(faleceu no ano de 1963 e ignora-se o ano do seu nascimento)
domingo, 26 de fevereiro de 2023
Licor de tangerina
6. Licor de Tangerina
Bebi lentamente o último cálice do conteúdo que restava na garrafa e fiquei olhando e relembrando através daquele rótulo manuscrito pela caligrafia certa e determinada da minha Avó.
São tempos que se perdem nas recordações de infância, mas que tento relembrar nestas linhas.
Aquele licor era possível porque congregava uma série de recursos e tarefas que vou tentar resumir:
-a vinha e a vindima com as dornas das uvas lentamente transportadas por carros de bois;
- o trabalho da adega com o desengaçador accionado manualmente, a pisa, a tulha do mosto fervente e a prensa de parafuso;
- o alambique e a destilação do bagaço para a obtenção da aguardente ;
- o pomar onde nos fins de tarde de estio se regavam os pés dos citrinos com a água dos poços puxada pelos alcatruzes das noras.
Depois vinha o Inverno e com ele a maturação das tangerinas. Algumas das cascas eram aproveitadas e cuidadosamente raspadas pelo interior. Por fim era a infusão destas na aguardente em grandes frascos de vidro. Tal infusão durava meses até o licor ganhar o seu sabor e côr característicos.
Assim se produzia uma bebida toda feita de recursos caseiros (excepto o açúcar). Não provinha de nenhuma destilaria industrial, não tinha uma marca imposta publicitàriamente, nem a sua confecção fora decidida para conquistar determinada quota de mercado. Por isso brindo em memória da minha Avó e de todos aqueles que participaram na longa cadeia da confecção deste licor.
(Resumo de texto publicado no Jornal “Cidade de Tomar” em 25 de Maio de 1979)
Recordações de lume
5. Recordações de Lume ( 1 / 1 / 87 )
Guiava pela noite dentro. O nevoeiro descia, adensava-se lentamente e com ele vinham uma mistura de cheiros campestres e aldeões que acordavam recônditas zonas das memórias da minha infância. Aí permaneciam intactos registos dos perfumes dos fornos de lenha, lareiras, braseiras e fumeiros. Tempos em que o fogo não era um luxo decorativo e dispensável, mas que fazia parte da vida quotidiana desde o acender do fogão a lenha, de madrugada, até ao serão à lareira, passando pelas brasas nos ferros de engomar e nas redondas braseiras.
Essa era uma idade do fogo companheiro e das labaredas despoletando fabulosos enredos nas teias da imaginação. Idade já moribunda quando eu a experimentei na minha infância e que agora se tornava fisicamente presente pelos cheiros que inalava viajando aldeia após aldeia, Ribatejo acima. Rolava, deixando a cidade para trás a aproximando-me do pequeno mundo onde vivi a minha infância triste e solitária, mas apesar de tudo cheia de recordações.
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023
Soudos Revisitado II
- Fevereiro de 1989
No Domingo passado partilhámos pratas, pocelanas e vidros dos meus Avós nos Soudos.
Foi uma tarde de reunião à volta da grande mesa da sala de jantar, mesa que quarenta e tal anos atrás também serviu de palco para eu aprender a andar. Antes disso houve almoço informal na Adega e eu ainda aproveitei para uma escapadela até ao jardim onde tive a agradável surpreza de encontrar os velhos buchos aparados. Ladeando uma das noras lá continuavam as romãzeiras, encarquilhadas, nuas, ressequidas por um Inverno sem água, mas nos ramos mais altos ainda sobravam algumas romãs guardando os seus pequenos bagos vermelhos sumarentos
quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023
Soudos revisitado I
4. Agosto de 1983
No fim-de-semana passado fomos dormir aos Soudos. Levámos pela primeira vez o André para a bisavó Vitória o conhecer.
Pisei de novo as pedras do páteo da minha infância, passeei no jardim, agora decrépito e sem jardineiros que o cuidem. Recordei com saudade a velha figueira desaparecida bem como o laguinho do cágado destruído. Aquele jardim é inseparável da minha meninice apesar da clausura em que muitas vezes me encerrou nos seus muros que impediam o contacto com os “cachopos” da minha idade. Visitei a capoeira outrora repleta de criação e coelhos e agora reconvertida em curral de ovinos. Entrei no palheiro onde coabitaram garbosos animais de tiro e cela, hoje reduzidos a uma pachorrenta mula. Subi a encosta até à eira e recordei as medas de trigo por ceifar e a debulhadora a trabalhar no pino de Verão envolta em poeira. Desci ao passadouro que se preparava para mais uma campanha de figo (actividade quase em extinção) e recordei o cheiro característico dos figos a caminho de passas e as abelhas a zumbirem por cima dos tabuleiros, recordei ainda as recolhas apressadas dos mesmos tabuleiros em pilhas quando vinham as indesejadas chuvas de Verão. Fui à adega, agora imprestável, recordar a chegada dos pesados e lentos carros de bois carregados de dornas repletas de uvas e o ruído característico de desengaçador a separar os bagos que iam enchendo a cuba de fermentação. Por fim, fui ao lagar recordar a campanha do azeite e a chegada dos pequenos frutos pretos e reluzentes apanhados de “empreitada” ou “à jorna” nos olivais do meu Avô por ranchos de gente misérrima vindos vindas das Beiras.
O lagar fez-me lembrar o Inverno, a lama nos campos e no jardim e o vento que uivava na janela da casa de passar a ferro. Como era triste aquela minha infância, apesar de toda a azáfama agrícola circundante, e como deixou marcas irreparáveis de solidão! No entanto tinha de lá voltar porque lá estava a Avó curvada pelos noventa anos, mas resistindo surpreendentemente ao tempo.
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023
A sesta
Texto respigado do meu caderno de memórias:
2. A S e s t a
A sesta era um necessário e obrigatório interregno para a labuta agrícola que se fazia então de Sol-a-Sol. Ainda lá está (na casa dos meus avós maternos) a sineta que marcava com o seu toque o “pegar” e o “despegar”. Não era assim para mim, que me obrigavam a uma recolha à cama para um descanso não necessário nem desejado.
Como eram infindáveis aquelas sestas obrigatórias em que me consumia a olhar para um velho relógio despertador com duas campânulas, quais reluzentes seios que retardavam o retinir das esperadas campainhadas! Revolvia-me em ânsias de movimento, exasperava-me em horas paradas, sofria-me em ausências de companheirismo, de alguém com quem jogar, correr e sonhar.
Assim me fiz um menino triste, tímido e enfastiado. Um mundo de adultos - Avós, tios, criadas e criados circunscrevia-me e aprisionava-me nessa minha meninice entediada, ao mesmo tempo tão cheia de protecção e tão carente de aprovação ou simplesmente de alguém a quem atirar a bola.
Assustavam-me os corredores longos e mal iluminados e as noites escuras sem lua. Ao menos podiam ter-me ensinado a olhar para os planetas, estrelas e constelações mas ficava tolhido no meu medo, circunscrito às paredes duma casa. Eram assim limitados, os horizontes duma vida que se enrodilhava em vez de despontar da infância. Mas um núcleo saudável dentro de mim lá me ajudou a sobreviver para escrever estas linhas.
Lisboa, Março de 1996
terça-feira, 21 de fevereiro de 2023
Chamada de atenção
pode ser que nem todos os leitores deste blog saibam que podem ver as fotografias nele publicadas ampliadas, bastando para isso "clicar" com o rato em cima delas.
Respigando memórias
Do meu caderno de memórias respiguei meia dúzia de pequenos textos (que ainda não foram publicados) e que têm a ver com a minha vivência nos Soudos, na casa dos meus Avós.
Publicá-los-ei a partir de amanhã, um por dia
sábado, 18 de fevereiro de 2023
Recordando o nosso Navegador - acontecimento memorável
Vai fazer 36 anos em Maio que chegou a Lisboa o nosso associado Manuel Castelo Branco Azevedo Mendes, depois duma navegação solitária de 108 dias,
vindo da Africa do Sul e trazendo a bordo o leme para a caravela em construção em Vila do Conde.
Notícia saída na altura no jornal Diário de Notícias:
sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023
Falecimento do José Dias
No início desta semana faleceu o Senhor José Dias, marido da Isabel. José Dias trabalhou durante vários anos na Quinda da Cerca sob a orientação primeiro do Tio Manuel Azevedo Mendes e depois do falecimento deste do Tó Azevedo Mendes. Sua esposa Isabel continua a colaborar com a Associação dos Amigos da Cerca.
Ontem, vários membros da Casa Azevedo Mendes dos Soudos participaram nas cerimónias fúnebres do Senhor José Dias com missa de corpo presente na capela dos Soudos e cortejo funebre, a pé, até ao cemitério dos Soudos.
Ficam aqui escritos os nossos pêsames à viuva Isabel e seus filhos, netos e bisnetos.
Outra foto antiga tirada na sequência da anterior
Imagino que o fotógrafo desta terá José Cândido uma vez que não aparece nela. Em vez dele aparece Nuno Mourão escarranchado no guarda lamas da viatura.
Ao fundo, do lado direito, pode divisar-se o casario dos Soudos. O proprietário da viatura seria o pai de Nuno Mourão, meu avô : Dr. Libério Mourão
terça-feira, 7 de fevereiro de 2023
Texto sobre a foto anterior:
Foto tirada provavelmente por Nuno Mourão em 1939.
Local: estrada de ligação das aldeias de Pé de cão e Vargos
Na viatura é possível reconhecer os manos Azevedo Mendes dos Soudos : José. Manuel, João e Fernando
As cavaleiras serão as manas Maria Cândida e Maria de Jesus (Bugia) e a prima destas Gina
sábado, 4 de fevereiro de 2023
Carlos Augusto Dinis da Fonseca
Página do livro livro do final de Curso jurídico dedicada ao nosso primo Carlos Augusto
com poemas que ilustram bem o seu peculiar carácter (livro gentilmente emprestado pela sua sobrinha Isabel
segunda-feira, 23 de janeiro de 2023
Foto quase centenária
No dia em que Teresa Maria fez a 1ª Comunhão ?
Sua mãe - Dona Prazeres, esposa de Carlos Azevedo Mendes, reuniu as senhoras devotas da sociedade torrejana da altura e todas se ajuntaram para esta foto em que o único homemn é um Senhor Bispo (que imaginamos que terá presidido à Eucaristia onde Teresa Maria terá comungado pela primeira vez).
Na foto,além da menina vestida de branco que julgo ser Teresa Maria Courinha Azevedo Mendes, consigo reconhecer a sua mãe Dona Prazeres e as suas tias Maria Isabel (esposa do Dr. Augusto Azevedo Mendes), Cândida Azevedo Mendes (viuva do Dr. Alvaro Dinis da Fonseca), Maria Azevedo Mendes e Victória Azevedo Mendes (esta esposa de Cândido Azevedo Mendes - o 2º pois o 1º e mais velho era Cândido Azevedo Mendes S.J.)
quarta-feira, 11 de janeiro de 2023
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